Declarações angelicais!
Os
serafins em Isaías 6 declaravam a santidade de Deus a ponto de atingir toda a
terra. "Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos. Toda a terra está
cheia da sua glória".
Se eu
olhar para o caos existente na terra não terei como manter meus olhos firmes
"naquele que está acima dos montes" (Salmos 121), pois a minha
fragilidade humana me faz acreditar, mesmo sem querer, naquilo que vejo, embora
eu seja chamado a "viver por fé e não por vista", nem sempre consigo
fazer prevalecer essa capacidade de acreditar sempre. Mas é exatamente aí que
me percebo refletindo no que o texto sagrado, tanto nesta referência de Isaías
quanto em tantos outros, como que as declarações de cima têm influência direta
nas declarações daqui de baixo. "Os céus proclamam a glória de Deus",
outra declaração de cima que me impulsiona a continuar refletindo até que se
tornem encarnadas a ponto de ver a mim mesmo e a tudo o que me cerca nessa
perspectiva divina.
Deparei-me
certa feita a analisar o texto de Gênesis 3 que fala da desobediência de Adão e
Eva sobre o que Deus havia dito para eles e me dei conta de que eles
desacreditaram nas declarações de Deus. Minha angustia em aprender se
intensifica cada vez mais que me deparo na transgressão desse princípio. Como é
difícil acreditar! Como é desafiador para mim a cada amanhecer sustentar a fé
frente a tudo o que me cerca. Ler hebreus 11 na tentativa de me inspirar parece
mais cruel ainda, uma vez que, as personagens citadas lá parecem distantes não
só pelo tempo, mas pela essência. Leio e releio só para declarar:
"ajuda-me na minha incredulidade". E o que dizer do que o Senhor
disse? "Porventura quando o Filho do Homem voltar achará fé na
terra"?
Ser
parecido com os heróis da fé que "saudaram a promessa de longe" nem
de longe parece com o que vejo em mim na jornada cristã. Como é difícil
acreditar! Mais ainda quando luto comigo mesmo para superar a necessidade de
constatações como a de Tomé de 'precisar tocar, ver', pois, a frustração de
tanto sufocar fé faz sucumbir o acreditar no testemunho dos outros. Aprecio as
declarações dos salmistas em indagar diante de Deus: " até quando"?
Aprecio porque mesmo parecendo falta de fé é o que aproxima o ser criado do
Criador numa relação franca e sem medos. Não é uma relação condenatória ou
punitiva, mas inquiridora, para que eu mesmo descubra as razões que me fazem
acreditar ou não diante dos naufrágios da vida. Depois de caminhar um pouco
sobre as águas e desfalecer na fé por dar atenção ao forte vento, Pedro não
ouviu acusação do Senhor como se ele tivesse cometido o maior dos pecados. Essa
passagem me instiga dado ao fato de que o que Jesus fez foi uma pergunta:
"por que duvidaste"? É aí onde nasce o verdadeiro aprendizado: quando
eu me encontro com minha própria debilidade e sou abraçado pela generosidade do
coração do Mestre para aprender a partir de minhas próprias razões e motivos. O
"por que" se mistura com o "até quando" e produz em mim a
certeza de que "seu poder se aperfeiçoa na minha fraqueza.
Luto para
mudar minhas declarações. De murmurar para agradecer, de julgar para elogiar,
de não mais dizer que não tem jeito e dar um jeito. Enfrento o desafio de ser
tentado todos os dias a acreditar que o mundo não tem mais solução, e assim,
subverto ao bravo desafio de nadar contra a maré, pois há quem diga que "o
inferno é aqui mesmo" e, então me esforço para manter acesa em mim a
certeza de que "tudo é possível ao que crer". As declarações dos
serafins sobre a santidade de Deus e também sobre a sua glória alcançando toda
a terra parece contrapor aos fatos aparentemente impossíveis de se mudar por
causa do caos que afeta a humanidade. Mas essas declarações são a linguagem do
céu, que deveria ser também a linguagem dos homens tendo em vista que
"toda a terra está cheia da sua glória". Se fossem declaradas: “os
céus estão cheios da sua glória", como de fato estão, não teríamos nenhuma
dificuldade de exercitar a nossa fé comum, pois sabemos que o céu é o céu.
Lugar sobre o qual nossas palavras são incapazes em descrevê-lo e a ambiência
sobre a qual todos anelamos ainda que sem nenhum tipo de confissão religiosa. A
propósito os anelos e buscas incessantes na alma humana por um paraíso, por uma
evolução interior e por coisas de aspectos excelentes são formas se dizer que
há no âmago de cada humano a crença de um céu para si. Mesmo contrapondo às
facetas de destruição mundial o humano continua a crer, e, parece-me ser isso
notório nas confissões filosóficas e não só nas religiosas. Schelling declarou:
"Cada ser humano guarda em si a sensação
de ter sido o que é por toda a eternidade, e não de que o tempo o fez
assim".[i]
Verdade é
que lidar com os fatos impossíveis é cruel e, também uma das experiências
humanas mais desafiadoras. Talvez seja por isso que nos impressionamos tanto
com os milagres, pois eles quebram as cadeias das impossibilidades que foram
impregnadas na nossa mente por causa das constantes percepções erradas sobre a
solução dos problemas. Dito isso estimulo a minha alma cada dia a ver para além
do que parece, e me impregnar do exercício da fé tão necessária para lidar com
os ‘impossíveis’ que se postam diante de mim.
Sejam as
declarações dos serafins ou o desafio feito a Pedro de pisar por sobre as águas
e andar, sinto-me estimulado a juntar-me com a maioria que acredita sempre que
o melhor está por vir, mesmo enfrentando os sinais apocalípticos que se ver em
todos os cantos. Aumenta o desafio quando releio as palavras de Paulo apóstolo
em sua epístola aos Efésios: "estamos
assentados com Cristo nas regiões celestiais". Assim percebo que ver
além do que parece óbvio é um exercício de fé que nos coloca frente a frente
com o Criador, e então nossa fragilidade se veste com o glorioso manto da sua
graça.
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